quarta-feira, 4 de junho de 2014

“Vocês não têm filhos?!”

Nem sei quantas vezes já respondemos que não temos filhos. Em certos eventos sociais, principalmente quando conhecemos outras pessoas, chegamos a responder incontáveis vezes no mesmo dia. A expressão de quem escuta que não temos filhos muda conforme a surpresa ao ouvir que faz 10 anos que estamos casados. 

Esses dias eu li sobre 20 coisas que você só sabe depois de se tornar mãe e fiquei bastante perplexa com isso. Me fez lembrar muito de frases que por vezes escuto: 
“- Você diz isso agora porque não tem filhos. Quando tiver, vai pensar diferente.
- Tu só vais saber o que é o verdadeiro amor depois de ter filhos.
- Só serás uma mulher completa quando tiveres um filho.”

De repente, você se dá conta de que estão atrelando a felicidade de um casal ao fato de terem filhos. Ou pior... a felicidade de uma mulher ao fato de ser mãe. Que triste isso! 

Lógico que deve ser diferente o jeito de ver a vida, o mundo ou as pessoas, antes e depois de termos filhos. Assim como é diferente nosso jeito de ver a vida depois que perdemos um pai, uma mãe ou um irmão. As pessoas não se tornam mais ou menos “completas” diante das experiências vividas nos caminhos da vida. Elas apenas desenvolvem sentimentos diferentes em momentos diferentes. Será que algum dia as pessoas vão entender que dores e felicidades são sentimentos incomparáveis? 

E o que eu diria sobre o verdadeiro amor? Eu digo: Ele se permitiu ser pregado vivo em uma cruz! Dentre as coisas que considero incomparáveis, está o amor. Da música “Preço do amor”, da Ziza Fernandes, minha tradução para amor: “Não existe amor maior, Que a coragem de dizer, Que um dia se preciso for, Dou minha vida por você!”. Sem sombras nenhuma de dúvidas, eu daria minha vida por tantas pessoas! Eu já deixei (e deixo) tanto de cuidar de mim, de fazer por mim para cuidar dos outros e fazer para os outros... e isso realmente me faz tão, tão feliz. Como alguém é capaz de comparar o tamanho dos amores que habitam dentro de cada um de nós?! 

E dentre comparações e comparações, o senso de responsabilidade, a falta de sono e de tempo também fazem parte da lista. Tempo? Quem foi que disse que você só entende o que é não ter tempo depois que se tem filhos? Eu realmente gostaria de entender esse parâmetro de medida, pois meus dias são repletos de atividades e eu pagaria muito bem por algumas horas a mais no final de cada dia. 

Sim! Eu também já ouvi que só me envolvo com tudo que faço porque “ainda” não temos filhos. Acredito que qualquer pessoa se envolva com coisas que consegue fazer (e até mesmo com o que não consegue), justamente por não ter outras. E não importa o que você é ou o que você tem, você não vai saber como é ser do outro jeito porque você simlesmente não é do outro jeito. Não ter filhos, vir a tê-los e, nos revezes da vida, perdê-los, fará você dizer: “Você não sabe o que é dor até perder um filho”. Ou seja, não importa a sua posição, ela sempre será a sua unidade de medida!

Mas, voltando à lista das coisas que já ouvi, inúmeras foram as vezes que ouvi que só entenderei minha mãe no dia em que eu me tornar uma. Não precisei ter filhos para entender minhã mãe (e minha avó também)... O tempo e a idade me fizeram perceber muitas coisas: o quanto ela mudou, o quanto sua vida se transformou, o quanto suas prioridades mudaram... Também percebi que seus medos aumentaram proporcionalmente às felicidades que lhe foram proporcionadas. E sei bem que são incontáveis as lágrimas que já derramou em silêncio... Se vou entender melhor no dia em que eu me tornar mãe?! Não sei! Mas certamente, hoje, quando me olho no espelho e me vejo uma mulher adulta, é porque fui capaz de olhar para trás e perceber que alguém foi capaz de “engavetar” a sua “solteirice” e dedicar sua vida para me proporcionar uma. Que minha mãe e minha avó possam compreender que, mesmo sem ter filhos, eu as entendo (mais do que imaginam) e que jamais me cansarei de lhes agradecer por terem deixado de ter certas coisas para que eu tivesse, me tornando o que sou hoje.

Em alguns (muitos) casos, não ter filhos não é uma opção, é um fato. E seria desastroso se, ao ouvir e ler tantas coisas, eu realmente acreditasse que eu jamais serei feliz ou completa se não tivermos filhos.

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